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Originalmente postado em fevereiro de 2018 / Atualizado em agosto de 2023
Um dos fenômenos naturais mais incríveis é a capacidade das plantas de se adaptar ao seu ambiente. A composição de agentes ativos em uma planta pode ser significativamente influenciada por fatores como geografia, altitude, clima, entre outros. Normalmente, esses fatores levam à formação de recursos protetores por parte da planta, ajudando-a a sobreviver. Frequentemente, esses compostos também exercem efeitos significativos de melhora da saúde humana.
Um ótimo exemplo dessa influência ambiental que leva a diferentes expressões de composição química em uma planta é a maca Peruana (Lepidium meyenii).
Esse membro fascinante da família do repolho é parente do nabo, mas misturá-lo aos vegetais crucíferos comuns é quase um desserviço diante de seus benefícios à saúde, ainda que os outros membros da família do repolho tenham suas próprias listas de efeitos benéficos para a saúde.
A maca é excepcional, e merece o reconhecimento associado a ela.
A maca é nativa do norte da região de Puna, no Peru e na Bolívia, onde a elevação costuma ser de 11.000 a 14.000 pés, logo acima da linha das árvores mas abaixo da camada permanente de neve. A maca é o alimento colhido da região de maior elevação no mundo. Porém, a região de Puna é desafiadora para o cultivo acima dessa elevação. A qualquer época do ano, as temperaturas podem variar de 60 °F até abaixo de zero. Mesmo quando a região passa por períodos de seca em termos de precipitação, a umidade permanece relativamente alta.
Por causa disso, congelamentos são frequentes, incluindo durante a temporada de cultivo. A conclusão é que todos esses fatores de estresse ambientais resultam na composição química única da maca peruana.
A maca é uma pequena planta que cresce a cerca de seis polegadas de altura e comprimento. Sua raiz em forma de nabo varia de 1 a 3 polegadas de diâmetro no momento da colheita. Essa raiz foi reverenciada por milhares de anos, devido à sua capacidade de promover energia, resistência e fertilidade. Para as pessoas da região de Puna, ela ainda é um alimento valioso.
A maca tem um sabor forte e amargo. Mas também possui uma certa doçura. Trata-se de um sabor curioso e incomum, e existe uma variedade de sabores devido às mudanças nas condições de cultivo. Diferentes formas de maca também apresentam diferentes composições químicas e aplicações. A raiz cresce em 3 grupos primários de cores:
A maca seca e em pó é rica em nutrientes, principalmente em minerais como cálcio, magnésio, zinco e potássio. Ela também contém aproximadamente 13-16% de proteínas e é rica em aminoácidos. Ela também é rica em fibras (8,5%), carboidratos (59%) e ácidos graxos livres (2,2%). Mesmo com seu excelente perfil nutricional, os efeitos fitoquímicos da maca são ainda mais animadores. Existem vários compostos únicos, mas primeiro, é importante destacar que os membros da família dos vegetais crucíferos são conhecidos por conter compostos chamados de glicosinolatos. Esses compostos são agentes valiosos para a saúde, que influenciam positivamente o metabolismo hormonal e estão presentes na couve, repolho, brócolis, etc. Os glicosinolatos da maca são únicos, com o benzilglicosinolato e a glicotropaeolina sendo especialmente importantes para seus efeitos.
A maca também contém alguns alcaloides especiais, chamados coletivamente de macamídeos, incluindo a macaridina e a macaena. Alcaloides costumam ser compostos de ação rápida. Esses alcaloides da maca exercem sua ação em mecanismos centrais de controle no hipotálamo, pituitária, adrenais e outros órgãos endócrinos. É provável que grande parte dos efeitos adaptógenos da maca ocorram devido a esses valiosos compostos.
Antocianidinas e outros flavonoides mais conhecidos em frutas silvestres são responsáveis pela pigmentação da maca preta ou vermelha. Esses pigmentos também contribuem para alguns dos benefícios à saúde, principalmente a atividade antioxidante.
A maca também contém alcamidas. Esses compostos são mais conhecidos como os componentes que causam o formigamento de língua da equinácea.
Por fim, a maca contém uma variedade de esteróis, incluindo brassicasterol, beta-sitosterol, campesterol e estigmasterol.
Quando olho para a composição química da maca, eu consigo entender por que ela é um alimento tão único. Ainda assim, eu noto como variações sutis nas proporções desses componentes ativos nas diferentes cores e tipos da maca, bem como no seu extrato gelatinizado, podem levar a efeitos diferentes.
O pó de maca peruana é preparado a partir das raízes, que são colhidas, secas ao sol, limpas e moídas, até virarem um pó fino. Durante esse processo, as raízes nunca são aquecidas acima de 45 °C (115 °F), para preservar o máximo de nutrientes, enzimas e glicosinolatos benéficos.
Ao preparar o pó de maca gelatinizado, as raízes secas ao sol são fervidas e pressurizadas para remover todo o teor de amido. São necessários 4 kg de maca em pó para produzir 1 kg de extrato de maca gelatinizado (uma proporção de 4:1). O aquecimento da maca destrói as enzimas e altera parte dos glicosinolatos, porém, concentra muitos dos compostos ativos e facilita sua digestão. Por exemplo, o aquecimento promove a formação de sulforafano, um derivado dos glicosinolatos de maca melhor conhecido como um componente do brócolis.
Como a maca é consumida em formas naturalmente secas por nativos da região central dos Andes no Peru, existe uma população histórica de estudo para se avaliar a segurança e os efeitos da maca. Particularmente, um estudo merece ser mencionado.
Um estudo avaliou o consumo de maca, aspectos sociodemográficos, situação de saúde e fraturas em homens e mulheres com 35 a 75 anos nessa população. Os resultados indicaram que o consumo de maca estava associado a índices de saúde significativamente mais altos. Ela também foi associada a uma menor taxa de fraturas e menores índices de sinais e sintomas de mal da montanha crônico. Além disso, o consumo de maca foi associado a um menor índice de massa corporal e pressão arterial.
Outro estudo chegou a resultados semelhantes, mas demonstrou que o consumo de maca estava associado a menores níveis de interleucina 6 (IL-6), um marcador essencial para inflamação e danos oxidativos. Altos níveis séricos de IL-6 foram associados a sintomas de envelhecimento, obesidade, maior incidência de doenças cardiovasculares, comprometimento cognitivo e menor expectativa de vida. Níveis mais altos de IL-6 também são associados à vida em grandes altitudes. Portanto, a natureza forneceu uma resposta às pessoas que vivem nas grandes altitudes dos Andes.
A maca possui todos os critérios para ser classificada como um "adaptógeno". Esse provavelmente é o motivo pelo qual ela, erroneamente, é chamada de ginseng peruano por alguns vendedores. A maca não é da família do ginseng, mas possui uma atividade adaptogênica semelhante à do ginseng Adaptógenos foram historicamente usados para:
Um dos achados consistentes nos dados clínicos humanos é que a maca melhora pontuações de humor, reduz a sensação de estresse e ansiedade e aumenta os níveis percebidos de energia.
Um dos benefícios mais reconhecidos da maca é aumentar o desejo e funcionamento sexual, tanto para homens quanto para mulheres. Testes clínicos confirmam essas propriedades, incluindo os benefícios da maca para a função erétil. Em homens, a maca não parece afetar diretamente os níveis de testosterona. Ainda assim, ela age em todo o sistema endócrino para reduzir os efeitos nocivos do estresse, enquanto melhora o humor, a energia e a resistência.
Mulheres também reagem bem à maca. Por exemplo, em um pequeno estudo de combinação duplo-cego, randomizado e controlado por placebo, envolvendo mulheres no período de pós-menopausa, foi demonstrado que a maca pode reduzir a ansiedade e a depressão e diminuir índices de disfunção sexual.
A realidade é que a disfunção sexual é altamente prevalente na sociedade moderna no mundo todo, afetando 20–30% dos homens e 40–45% das mulheres. A maioria das disfunções sexuais está relacionada a uma redução no desejo sexual em mulheres e homens, além da disfunção erétil (DE) nos homens. Como a maca afeta e melhora as duas causas significativas da disfunção sexual, não é surpresa que essa aplicação possa ter se tornado o principal motivo para homens e mulheres adicionarem maca às suas dietas.
A maca é usada há muito tempo para promover a fertilidade. Alguns estudos, envolvendo homens que sofrem de baixa função do esperma e qualidade do sêmen, sustentam seu uso histórico. Em um estudo duplo-cego, sessenta e nove homens diagnosticados com motilidade espermática reduzida (astenozoospermia) e baixa contagem de esperma receberam maca (2 g por dia) ou um placebo durante 12 semanas. Os homens tratados com maca apresentaram melhora significativa na concentração seminal, mas não houve diferença no volume de sêmen, mobilidade e morfologia do esperma ao se compararem os dois grupos. Esses resultados indicam que a maca possui efeitos leves para essa aplicação.
A maca foi usada no Peru para ajudar mulheres na menopausa. Em um estudo de quatro meses, mulheres no período pós-menopausa que tomaram 2 g de maca em pó por dia apresentaram um efeito de equilíbrio nos níveis de hormônios (FSH, estrogênio, progesterona e ACTH). Elas ainda apresentaram redução na frequência de ondas de calor, sudorese noturna, interrupção nos padrões de sono, nervosismo, depressão e palpitações cardíacas. Também houve redução no peso corporal, pressão arterial e aumento do colesterol HDL e ferro no soro sanguíneo. Esses resultados apoiam o uso histórico da maca em mulheres após a menopausa.
Uma das descobertas do estudo mencionado acima, envolvendo peruanos dos Andes, foi um efeito de redução da pressão arterial da maca. Em um estudo duplo-cego envolvendo homens saudáveis, a maca gelatinizada reduziu a pressão arterial sistólica e diastólica após 12 semanas de uso. Outro estudo, envolvendo mulheres no período pós-menopausa, apresentou um efeito de redução da pressão arterial com o pó de maca comum.
A dose padrão para a maca seca em pó ou gelatinizada é tipicamente 1500-3000 mg, uma ou duas vezes por dia. Doses mais altas podem ser necessárias para mais efeitos terapêuticos, mas uma dosagem diária de 1,5-6 g é apropriada para uma melhora geral da saúde.
Lembre-se que existem reações individualizadas à maca, assim como qualquer outro alimento.
A maca é geralmente bem tolerada. Se ela causar irritação gastrointestinal, considere a forma gelatinizada e sempre consulte seu profissional de saúde antes de fazer mudanças no seu regime.
Referências:
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