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Acetil-L-carnitina – essencial para manutenção, proteção e reparo

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A acetil-L-carnitina (ALC ou ALCAR) tem sido estudada como um novo tratamento para depressão, transtorno cognitivo, mal de Alzheimer, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), perda auditiva induzida pelo barulho, acetaminofeno (ex.: Tylenol), overdose, encefalopatia hepática e outros problemas.

Acetil-L-carnitina – uma pequena molécula com um grande papel

A L-carnitina é um aminoácido encontrado principalmente em carnes e laticínios. Depois de digerida, a L-carnitina pode ser convertida a acetil-L-carnitina (ALCAR), que viaja para todas as partes do corpo e atravessa facilmente a barreira hematoencefálica, para realizar tarefas celulares cruciais. Por exemplo, a ALCAR é necessário para funções das membranas celulares, neurotransmissão, metabolismos de ácidos graxos essenciais, metabolismo de energia e proteção antioxidante (Pettegrew et al., 2000). Estudos pré-clínicos sugerem que a ALCAR pode aumentar a neuroplasticidade (a capacidade dos neurônios de criarem novas conexões) e a neurogênese (o crescimento de novas células cerebrais) no hipocampo (onde as memórias emocionais são armazenadas) e no córtex pré-frontal (pensamento de alto nível e modulação de reações emocionais) (Pettegrew et al., 2000).

A ALCAR é segura – mas tem alguns efeitos colaterais

Apesar de, no geral, a ALCAR ser segura e ter menos efeitos colaterais que medicamentos antidepressivos usados para tratar distúrbios cognitivos, ela tem algumas desvantagens. O primeiro deles é que leva um pouco tempo para a ALCAR fazer efeito. Os benefícios podem não ser vistos por dois a quatro meses. O segundo é que a maioria dos pacientes precisa tomar muitas pílulas; em média, três comprimidos de 500 mg uma ou duas vezes por dia. O terceiro benefício é que o ALCAR tem os seguintes efeitos colaterais: diarreia, odor na urina, prisão de ventre, náusea e dispepsia (indigestão ou dor estomacal). Efeitos colaterais menos comuns incluem insônia, agitação e aumento de apetite.

ALCAR para depressão – depende de que tipo de depressão

Apesar de terem sido realizados 10 estudos duplo-cegos, randomizados e controlados por placebo (DBRPC) sobre os efeitos da ALCAR para a depressão, aqueles que demonstraram benefícios foram feitos principalmente em pacientes idosos, pacientes com distimia (depressão leve a moderada) e pessoas com problemas médicos como fibromialgia ou câncer (Wang et al. 2014). Muitos dos estudos mais antigos usaram metodologias ultrapassadas, que não seriam consideradas de alta qualidade pelos padrões de hoje.

Ainda assim, a ALCAR beneficia muitos pacientes com depressão. Isso pode ser atribuído aos seus efeitos geralmente positivos nas funções celulares, no metabolismo da energia e na neurotransmissão. Além disso, pacientes idosos podem ter um problema chamado “depressão vascular”, que é uma depressão relacionada a uma redução no fornecimento de sangue para as áreas do cérebro envolvidas no humor e nas funções ligadas ao humor. Nesses casos, aumentar o fornecimento de sangue ou realizar uma perfusão no cérebro pode melhorar o humor, a orientação, as funções cognitivas, a memória e o comportamento.

Apesar de a ALCAR não ser um tratamento de primeira linha para a depressão severa, ela deve ser considerada por pacientes com distimia, possível insuficiência cerebrovascular, fibromialgia ou uma incapacidade de tolerar medicamentos prescritos para a depressão.

O que a ALCAR faz para a deficiência cognitiva e a demência?

Desde os anos 80, pesquisadores têm explorado o uso da ALCAR para o tratamento de doenças neurodegenerativas, incluindo o declínio cognitivo ligado à idade, problemas cognitivos leves, demência vascular e mal de Alzheimer. A partir desses estudos, é possível identificar os tipos de indivíduos que podem ser mais propensos a responder à ALCAR.

Estudos sobre distúrbios cognitivos e demência descobriram que a ALCAR tem maior eficiência em pacientes cuja insuficiência cerebrovascular contribuía para o declínio da capacidade mental. À medida que envelhecemos, a circulação pelos menores capilares tende a diminuir, fazendo com que as células cerebrais fiquem carentes de oxigênio e nutrientes. À medida que as células cerebrais enfraquecem, elas se tornam mais vulneráveis a danos ou à apoptose (morte celular) mesmo com pequenas reduções na perfusão, o que pode ocorrer se o indivíduo fica desidratado ou superaquecido, passa por uma cirurgia, tem uma queda na pressão sanguínea, inicia uma atividade física, tem apneia do sono não trata ou passa por um choque traumático.

Sinais de possível insuficiência cerebrovascular

Vertigem, tontura, confusão transiente, dificuldade para falar ou lembrar de coisas, lentidão mental, problemas na execução de funções (planejar, organizar e fazer coisas), fraqueza repentina ou quedas podem ser indicadores de insuficiência cardiovascular. Além disso, a insuficiência cerebrovascular pode ser associada a alterações de comportamento, como apatia (perda de interesse), ansiedade ou depressão. A presença de diabetes, aterosclerose e doenças cardíacas são fatores de risco adicionais.  

Encontrar evidências da insuficiência vascular difusa em um exame de imagem cerebral de um paciente idoso é tão comum que costuma ser considerado “normal para a idade”. Consequentemente, profissionais de saúde costumam dizer para seus pacientes que o exame foi “normal”. Porém, quando essa descoberta ocorre em um paciente que tem sintomas que podem ser associados à insuficiência vascular, a situação e o exame devem ser reavaliados. Quando os neurônios estão com problemas para sobreviver, faz sentido dar a eles um melhor fornecimento de oxigênio e nutrientes vitais, para evitar uma maior perda e, em alguns casos, para ajudar as células a se recuperarem. Um pouco mais de proteção antioxidante também pode ajudar. ALCAR, nootrópicos, vasodilatadores cerebrais (compostos que ajudam os vasos sanguíneos a abrirem), nutrientes e ervas adaptogênicas podem melhorar a função mitocondrial, aumentando as defesas celulares e auxiliando a recuperação.

Doença vascular em pacientes com diagnóstico de demência

Apenas cerca de 10% (ou menos) dos pacientes com demência apresentam demência puramente vascular. Ainda assim, dentre os pacientes com demência, 75% apresentam evidências de doença vascular. Frequentemente, quando um paciente recebe um diagnóstico de demência ou mal de Alzheimer, o exame neurológico e as tentativas de tratamento param. Porém, tais pacientes costumam ser mais velhos e, portanto, são propensos a terem algum grau de insuficiência vascular, que pode ficar aparente em um exame de imagem cerebral. É uma boa ideia experimentar o tratamento da insuficiência vascular com ALCAR e outros auxílios cerebrais, mesmo se o diagnóstico primário seja de demência, pois apenas uma melhora parcial já pode fazer uma grande diferença na qualidade de vida do paciente, da família e dos cuidadores.

A ALCAR tem um papel no tratamento da deficiência cognitiva vascular (DCV), conforme demonstrado em um DBRPCT recente (Young et al. 2018). Nesse estudo, 56 pacientes com deficiência cognitiva vascular, que já estavam tomando denepezil (Aricept), receberam 1.500 mg de ALCAR por dia ou um placebo, durante 28 semanas. No grupo com ALCAR, as pontuações na Avaliação Cognitiva Montreal demonstraram uma melhora significativa em comparação com o grupo placebo. Porém, as pontuações em outros testes de função cerebral não diferiram. Os maiores benefícios com a ALCAR ocorreram na atenção e na linguagem.

A ALCAR funciona melhor em combinação com outros suplementos

Os organismos vivos são tão complexos que não devemos nos surpreender ao descobrir que as células que envelhecem se saem melhor ao receber nutrientes múltiplos, para dar energia aos seus mecanismos complexos. Uma fórmula nutracêutica e vitamínica promissora, chamada de “NF”, melhorou os sintomas cognitivos e outras funções cerebrais. A NF contém ácido fólico, vitamina B12, vitamina E, S-adenosilmetionina, N-acetil cisteína e acetil-L-carnitina. Em estudos com pacientes em estágio precoce, mediano ou avançado do mal de Alzheimer, indivíduos que receberam a NF apresentaram pontuações significativamente melhores em medidas neuropsiquiátricas, incluindo em testes cognitivos e de memória (Chan et al. 2008; Remington et al. 2009, 2015). Os pacientes nesses estudos toleraram bem a fórmula. Nenhum efeito colateral sério foi relatado. Estudos adicionais são necessários para confirmar essas descobertas encorajadoras. Cada componente dessa fórmula tem seus próprios benefícios para a saúde, além de ter poucos efeitos colaterais. Para indivíduos com insuficiência vascular cerebral, um vasodilatador cerebral – como o Picamilon, por exemplo – pode fornecer uma perfusão adicional.

ALCAR para a perda auditiva induzida pelo barulho

Assim como a exposição solar em excesso pode causar danos oxidativos às lentes e à retina do olho, de forma similar, a exposição ao barulho em excesso pode causar danos oxidativos no ouvido interno, o que contribui para a perda auditiva. Estudos demonstraram que certas combinações de antioxidantes podem proteger contra danos permanentes da exposição ao barulho (Choi and Choi 2015). Cada antioxidante protege partes diferentes das células que nos permitem ouvir. Em combinação, esses antioxidantes têm efeitos sinérgicos, ou seja, eles melhoram o efeito um do outro. Uma combinação, de ALCAR com folato e vitamina E, reduziu significativamente os danos celulares e a perda auditiva (Dhitavat, et al 2005). O magnésio e a vitamina A também foram benéficos. Os antioxidantes foram mais efetivos quando administrados antes da exposição ao barulho, dentro de 4 horas depois da exposição e com um uso continuado 9 dias depois da exposição.

ALCAR para o transtorno do déficit de atenção

Estudos sobre os efeitos da ALCAR no TDAH demonstraram resultados misturados e inconclusivos. Essas inconsistências podem indicar que ele é mais benéfico para certos subtipos, ao invés do TDAH no geral. Por exemplo, uma reanálise de resultados negativos em um estudo BDRPC com 112 crianças com TDAH encontrou benefícios significativos em pessoas que tinham a forma desatenta, ao invés da forma hiperativa ou formas misturadas do TDAH (Arnold et al. 2007). Além disso, vários dos estudos de TDAH duraram apenas seis semanas, o que pode não ter sido um tempo longo o suficiente para detectar um efeito da ALCAR.

Benefícios estabelecidos e potenciais

A acetil-L-carnitina (ACL ou ALCAR) continua a ser uma molécula de grande interesse para pesquisadores, porque muitas funções importantes foram identificadas em pesquisas pré-clínicas. Efeitos da ativação de genes, transcrição, proteção de genes envolvidos na metilação e muitas outras funções indicam uma tentadora variedade de possibilidades terapêuticas. Combinações estratégicas usando ALCAR e outros suplementos – para auxiliar e proteger células do corpo – exigirão estudos em andamento.

Referências:

  1. Chan A, Paskavitz J, Remington R, Rasmussen S, Shea TB. Efficacy of a vitamin/nutraceutical formulation for early-stage Alzheimer's disease: A 1-year, open label pilot study with a 16-month caregiver extension. Am J Alzheimer’s Dis Other Demen 2008; 23: 571-85.
  2. Choi SH, Choi CH. Noise-Induced Neural Degeneration and Therapeutic Effect of Antioxidant Drugs. J Audiol Otol. 2015 Dec; 19(3):11-119.
  3. Dhitavat S, Ortiz D, Rogers E, Rivera E, Shea TB. Folate, vitamin E, and acetyl-L-carnitine provide synergistic protection against oxidative stress resulting from exposure of human neuroblastoma cells to amyloid-beta. Brain Res. 2005 Nov 9; 1061(2):114-7.
  4. Pettegrew JW, Levine J, McClure RJ. Acetyl-L-carnitine physical-chemical, metabolic, and therapeutic properties: relevance for its mode of action in Alzheimer’s disease and geriatric depression. Mol Psych. 2000; 5:616-632.
  5. Remington R, Chan A, Paskavitz J, Shea TB. Efficacy of a vitamin/nutraceutical formulation for moderate-stage to later-stage Alzheimer's disease: A placebo-controlled pilot study. Am J Alzheimer’s Dis Other Demen 2009; 24: 27-33.
  6. Remington R, Bechtel C, Larsen D, Samar A, Doshanjh L, Fishman P, et al. A phase II randomized clinical trial of a nutritional formulation for cognition and mood in Alzheimer's disease. J Alzheimer’s Dis 2015; 45: 395-405.
  7. Wang S-M, Han C, Lee S-J, Patkar AA, Masand PS, and Pae C-U. A review of current evidence for acetyl-L-carnitine in the treatment of depression. J Psych Res. 2014; 53:30-37.
  8. Wang S-M and Pae C-U. Chapter 5. Acetyl-L-Carnitine, N-acetylcysteine, and Inositol in the Treatment of Psychiatric and Neuropsychiatric Disorders. In edited by PL Gerbarg, PR Muskin, and RP Brown. Complementary and integrative Treatments in psychiatric Disorder. Washington, DC, American Psychiatric Association Publishing. 2017, pp. 53-74.

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